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Artista maranhense descortina a realidade carioca em fotos

Joelington Rios nasceu no Quilombo Jamary dos Pretos e se mudou para o Rio em 2017, onde vem ganhando projeção na cena artística
A série "O que sustenta o Rio", de Joelington Rios Foto: Joelington Rios
A série "O que sustenta o Rio", de Joelington Rios Foto: Joelington Rios

Nascido no Quilombo Jamary dos Pretos, no Maranhão, Joelington Rios se mudou para o Rio em 2017 a convite do irmão mais velho. Na época, morou na Favela do Muzema, na Zona Oeste, e se matriculou no Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, em Copacabana, para concluir o ensino médio. Ao se deslocar entre esses dois pontos, chamavam a atenção dele a quantidade de pessoas nas ruas e as linhas que dividiam a cidade. “Passava pela Rocinha e pelo Vidigal e, depois, por Leblon e Ipanema. Era como se cruzasse portais.”

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Ao se matricular num curso de fotografia no Centro, atravessou também a Zona Norte e entendeu de onde vinha aquela gente toda que via nas ruas da Zona Sul. “Existe um deslocamento agressivo, em que as pessoas vão até o outro lado para trabalhar. Foi quando comecei a pesquisa que chamo de ‘processo de sustentação’, em que noto como pessoas negras e faveladas carregam a cidade em suas cabeças.”

Nascia assim a série “O que sustenta o Rio”, em que o artista, hoje com 24 anos, mescla retratos de pessoas negras com imagens do Cristo Redentor e do Pão de Açúcar. Bem recebidas, as obras do jovem já entraram para o acervo do Museu de Arte do Rio e foram apresentadas na última edição do Art Rio.

E para quem foi fisgado pela produção, há novidades a caminho: “O que sustenta o Rio” vai se desdobrar em esculturas, enquanto ele prepara um novo projeto chamado “Entre rios e mocambos”, com uma pesquisa sobre corpos que deixam os quilombos para ganhar os centros urbanos. “Vou me desprender da minha zona de conforto, que é a fotografia”, adianta o artista, que pretende trabalhar com performances, instalações e tecidos, material pelo qual nutre carinho especial. “No quilombo, era comum dormirmos em redes. Então, os tecidos guardam muitas memórias.” Sorte de quem puder compartilhá-las.